Desabafos aleatórios

Há tempos não venho aqui. E sinto que preciso fazer esse desabafo, usando as palavras e a escrita como forma de exorcizar aquelas feridas que ainda estão abertas, ávidas para cicatrizar. Sinto isso porque converso mentalmente com a mente como um ensaio de alguém que possa (ou queira me ouvir). 
Essa semana reli o e-mail (e a resposta que tive) que enviei à coordenação da casa espírita há mais de um ano. Reli na tentativa de analisar o contexto com outros olhos e tentar dissolver essa coisa que ainda está por aqui dentro do meu coração. Pro meu marido isso acaba sendo uma obsessão, ainda pensar em tudo isso, mesmo após tanto tempo. Pra mim é, sobretudo, um processo de autoconhecimento. Faz parte daquelas experiências que a gente vive e que fica entalado sem dissolução, aguardando que o tempo e a maturidade ajudem nessa empreitada. Mas é preciso se resolver, deixar fluir, no tempo certo, é claro! É assim que eu funciono e já tive experiências em outros momentos de vida desses mesmos mecanismos.
O fato é que, nesse caso, ainda não dissolveu. Fico rememorando aquela manhã por muitas vezes, na tentativa de tentar entender onde posso ter falhado. 
Bom, acho que o cerne da questão está no meu auto-amor e no desejo (e grandes expectativas geradas) em ter um grupo de amigos espíritas que gerassem valor pra mim e pro mundo. É aquele velho sentimento da necessidade de pertencimento. Sinto uma grande admiração (ou talvez seja inveja e esteja dando nomes errados aos sentimentos) ao grupo de amigos da minha prima. São jovens, imperfeitos, mas com um coração repleto de paz e carinho, que fazem da prática o seu modo de vida. Acho lindo! E queria ter amigos assim tb! 
Não sei de onde vem essa importância dada a ter um grupo assim nesse momento de vida. Tenho tantos amigos, tantas pessoas queridas e grupos ainda espalhados e com perfis diferentes, que amo, respeito e que ainda mantenho conexão. Então por que essa vontade de construir um novo? Sinceramente ainda não tenho resposta!
O fato é que eu esperava construir isso lá na casa de Rita e por algum tempo achei que tinhamos conseguido. No entanto, passados alguns meses comecei a perceber que o discurso não condizia com a prática e comecei a questionar isso, afinal, pra mim é fundamental que na amizade exista uma afinidade, algo que nos ajude a ser melhor do que já somos, de alguma forma. E comecei a questionar esse ponto porque não sentia uma troca.
Ao contrario, comecei a ver um comportamento bem esquisito, que não me preenchia. Críticas, julgamentos e falta de vontade para vencer a si mesmo. Era isso que eu percebia nas atividades da casa e nos encontros fora dela. Acho que esse mesmo processo aconteceu lá no Comitê, com a questão da Marina etc. Foram os mesmos sentimentos, aquela vontade de pertencimento, de fazer parte de um grupo que, no fundo, eu não sentia muita conexão, mas queria forçar a barra e aí acabava sentindo um processo de rejeição. Lembro que na época, durante a terapia, fizemos uma reflexão sobre “quem rejeita quem?”. Porque na verdade era eu que passava um sentimento de superioridade por achar que era “mais” do que eles. E me afastava! 
Acredito que sejam os mesmos processos aí. E preciso explorar isso de alguma forma, a fim de evitar que isso se repita em minha vida, daqui pra frente. 
A amizade com o casal me faz lembrar o tempo todo dessa questão. Acho até que, por isso (e outras coisas) perdi a conexão com eles. Já não sinto mais a mesma vontade de estar junto e (sinceramente) fico com vontade de falar algumas verdades, expor alguns pensamentos meus de forma bem direta. Mas vivemos em uma sociedade em que falar a verdade não é muito bem visto, né?! Precisamos o tempo todo usar filtros para evitar que não sejamos aceitos. E que chatice é esse sentimento de não ser aceito. Eu tenho isso tão latente. Meu medo de não ser amada!!! Aí fico fazendo de tudo para gerar no outro um reconhecimento que eu preciso para me sentir amada. Como se ser eu mesma não fosse boa o suficiente! 
Que droga, Isso?! Percebo essa questão em tantos aspectos da minha vida! E entendo que a raiz está lá no amor próprio, na construção que ela foi feita ao longo da minha infância e da minha vida. 
E apesar de racionalmente eu entender esses processos e mecanismos, a emoção não se dissolve e não consigo romper com isso. 
A questão do Comitê já passou. Hoje não tenho qualquer ressentimento ou remorso por não ter me inserido naquele grupo. E enxergo apenas uma oportunidade de crescimento pra mim, sem vitimismo. Me arrependo apenas de não ter sido mais leve, naquela época, e de não ter aproveitado mais a oportunidade de viver aquela experiência de forma mais alegre. Mas já passou e, tenho certeza de que esse aprendizado vai me ajudar em outros aspectos da minha vida. O que eu fiz pra dissolver aqueles sentimentos da época? Não sei....talvez tenha sido o tempo, talvez a maturidade de enxergar as coisas de forma diferente, talvez a conversa corajosa que tive com a Marina. 


Com o pessoal do Rita, o processo ainda não se dissolveu. Está aí latente na minha mente e no meu coração. Vez ou outra sinto essa questão bater à porta e invadir meus pensamentos. Sei que não dá pra forçar essa dissolução. Que assim como aconteceu com o comitê, as questões serão resolvidas de forma natural e simples, quando eu estiver pronta pra isso. Enquanto esse momento não chega fico aqui dando importância ao fato mais do que deveria, criando diálogos mentais, pensando e repensando onde falhei e o que poderia ter feito diferente. Mas no final das contas, por mais chato e às vezes doloroso que seja isso, ao menos me ajuda no processo de auto-conhecimento. Então sigamos em frente, refletindo e aprendendo, e desejando que um dia isso seja apenas um pensamento distante.

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