1 ano dos Jogos Rio2016

Ontem, dia 05 de Agosto de 2017, fez 1 ano da abertura dos Jogos Olímpicos Rio2016. Nas redes sociais chovem mensagens de gratidão, de lembranças e de alegria. Diversas pessoas que trabalharam comigo nos Jogos tem apenas palavras doces e  belas para relembrar aquele período tão intenso que vivemos: "Maior e melhor projeto da vida", "Maior oportunidade profissional", "Foi maravilhoso participar", "Muito orgulho".....todo mundo tem algo de positivo para falar. Aí eu fico aqui, com meus pensamentos tentando encontrar alguma coisa de positivo naqueles 4 anos que foram extremamente pertubadores para mim. Fico tentando puxar da minha memória alguns poucos momentos de alegria, defelicidade que senti, de orgulho. Está difícil achar e acaba sendo mais pertubador ainda, porque a gente precisa ser positiva, né. Pensar no copo mais cheio e nunca no copo mais vazio, afinal, tem tanta gente com problema no mundo, tanta gente sem oportunidade.

Eu comecei o trabalho cheia de esperanças, cheia de orgulho de viver esse momento da nossa cidade. Mas a rotina era tão enlouquecedora, as lideranças, as reuniões loucas e improdutivas, o bulliyng rotineiro que sofríamos, que fui perdendo o tesão. Me senti rejeitada tantas vezes, como se eu não servisse mais para nada, como se as minhas idéias fossem lixo. Fui perdendo a vontade das coisas, fui me isolando, achando tudo cinza. E eu só vestia cinza mesmo, ou preto, como forma de luto. Minha vontade de produzir e contribuir foi sendo minado. E eu ia me arrastando pro trabalho, sem vontade de fazer as coisas. Mas não quero me fazer de vítima e colocar a culpa na experiência. Eu sei que permiti esse vazio, que fui deixando a rotina me engolir porque, no fundo, eu acreditava que as coisas iriam melhorar. Mas dia-a-dia, ano-a-ano, as coisas só foram piorando. Até tentei fazer algumas mudanças, mas elas não foram suficientes e foram equivocadas de novo. E o tempo foi passando, passando, e eu fui me conformando com a data final, e me obriguei a ir até o fim da linha, que chegou (e nem demorou tanto assim), mas pareceu uma eternidade. E eu lembro de no último dia sentir a chuva de alívio batendo no meu rosto e uma sensação de liberdade tão profunda, que não me deixa sentir saudade.

Queria poder escrever palavras mais positivas, mas hoje (como em mais um mês, porque isso já está se tornando cíclico) não vai dar não. Diferente de todo mundo que se orgulha por ter participado desse momento do Rio e do Brasil, o único orgulho que eu sinto é por ter sobrevivido durante esses 4 anos de dedicação exclusiva. Por vezes, chego a me arrepender por ter feito essa escolha e ter priorizado, na época, a questão financeira. Está certo que isso foi, de fato, um ponto muito positivo. Se não fosse o salário que eu recebia, eu não teria feito obra no apartamento, não teria feito uma festança de casamento, não teria feito diversas viagens, não teria feito reservas. Mas também acho que eu teria dado outro jeito, teria dado outras prioridades. E a vida teria seguido....

As pessoas que conheci, talvez tenha valido à pena? Sim....essas sim. Mas foram poucas as pessoas que valeram a pena. São nelas que me seguro para justificar o sacrifício. Mas a grande maioria das pessoas, eu poderia ter passado essa encarnação sem ter conhecido, porque só aprendi com elas como não ser. Mas não deixa de ser um aprendizado, né. Um bom aprendizado!

Acho que a experiência foi importante porque me fez enxergar certas coisas dentro de mim, que ainda estão sendo descobertas, aos poucos. Afinal, a experiência estava lá, né?! Eu deveria ter aproveitado ela da melhor forma. Mas meu coração se dilacerou tantas vezes, precisei catar os cacos espalhados em tantos momentos, que na imersão dos acontecimentos, eu não conseguia olhar por esse lado. Aprendi! Sim, no fim das contas aprendi muito com o sofrimento, com as dúvidas, com as lágrimas. Ainda que a lição tenha sido póstuma, acho que continuo aprendendo. E espero que em uma próxima oportunidade, eu consiga enxergar o lado mais colorido do quadro.

E para me ajudar a enxergar o lado positivo dessa experiência, deixo abaixo esse vídeo. Embora eu não apareça nele, nem meu trabalho tenha sido mostrado, o evento foi bonito e encheu muitos de orgulho.
 


 



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