O mundo só quer dar opinião


Eu devia ter uns 10 anos quando, na aula de português, interpretamos um texto que falava sobre a importância de termos opinião sobre os assuntos. Não me recordo do nome, nem do autor, mas a lição daquele texto me trouxe à tona uma responsabilidade enorme, no auge da minha inocência, de que para tudo na vida deveríamos ter uma opinião própria, e jamais ficar sobre o muro. 

De fato, fiz desse lema a minha prática e passei anos a fio concatenando opiniões, formulando questões na minha cabeça e tomando partido de todas elas. Ora de forma equilibrada, ora de forma passional, eu sempre tinha minha opinião para tudo e fazia dela a minha espada de combate. Mas aos poucos, a vida vai nos ensinando, vai nos mostrando que para ter opinião é preciso ir além de apenas dar opinião. Antes de mais nada, é preciso ser humilde e conhecer a questão, à fundo. Do contrário, viramos soldados das verdades absolutas e nos tornamos uns chatos “valorizando as pequenas discussões em torno de pontos de vista, que, amanhã, estarão mudados pelas próprias contingências da vida”. Não tem frase mais perfeita do que essa!!! O ser humano passa por tantas transformações, tem a capacidade (e a possibilidade) de modificar-se tanto ao longo dos anos (ainda bem!!) que é muito natural mudarmos de opinião, ampliarmos o nosso horizonte e, quiçá, evoluirmos. Vamos crescendo e mudando também a nossa forma de pensar e de nos relacionar com o mundo.

Nesse contexto, também não dá para achar que o mundo tem somente 2 lados: OU você concorda, OU discorda! Ou você é petralha ou coxinha, OU é a favor da arte (homem nú do MAM) ou é contra a arte, OU acha certo distribuir ração para os famintos ou acha terminantemente errado.....enfim*, são tantas questões que o mundo está nos levando a pensar e repensar que, sinceramente, acho impossível queremos dividir os pensamentos humanos de forma binária! Não combina com a nossa natureza. É preciso expandir um pouco esse raciocínio e, mais ainda, é preciso conhecer do assunto antes de formarmos uma posição, seja ela do lado A, B, C, D ou Z.

Isso porque nessa ânsia louca de tomar um lado da situação, o povo está desatinando e reproduzindo coisas sem nem, ao menos, pesquisar e entender do assunto. Quer um exemplo: Garanto que, das pessoas que deram a sua enfática opinião sobre o homem nú do MAM, pouquíssimas estavam lá de corpo presente na apresentação. Outras poucas viram o vídeo completo gravado. E a grande maioria só saiu opinando porque leu ou viu alguma coisa sobre o tema pelo facebook ou pela internet. Não teve pesquisa, não teve aprofundamento, não teve raciocínio analítico, teve apenas o “Dar a minha opinião”, seja lá qual for. Estamos reproduzindo esse processo o tempo todo, com todos os assuntos. 

Basta uma polêmica ser “jogada” na mídia que o povo sai frenético, com sangue nos olhos, para gravar vídeo, depoimento (e sabe lá mais o quê) se colocando contra ou a favor.
E tem as mídias sociais aí para contribuir (e completar o caldo) com essa propagação infrrnal de opinião alheia. Aí fica uma enxurrada de declarações pessoais, sem conteúdo e nem conhecimento,
sem debate e nem empatia. Como se a minha opinião fosse a mais correta. Além de haver, sobretudo, uma incitação ao ódio frente àquele que discorda da opinião divergente. O que é isso, pessoal? Mais amor, por favor!

Acredito que só conseguiremos evoluir coletivamente e expandir a nossa consciência a partir do momento que desenvolvermos a nossa capacidade de conhecer e ouvir, antes de julgar. De analisar e repensar, antes de rotular. De nos colocarmos na posição do outro, antes de formarmos a nossa própria opinião. Por isso, vamos falar menos e fazer mais! Ao invés de dar opinião e propagar as divergências, vamos agir de dentro para fora. Só assim sairemos de uma condição limitante para algo muito melhor e muito mais diverso.
Opinião sem ação, é namoro sem beijo!

*Nota: Para deixar claro minha posição, sem perder a ternura.
1) Não confio mais no PT e acho o PMDB o partido mais chupinça e escroto desse país. Não votei no Lula, nem na Dilma (Temer vice, atenção!!!), nem no Aécio, nem no Serra. Sempre procurei votar no candidato ou partido cujo plano de governo mais se aproximasse das minhas crenças e convicções (o que não inclui PT, PMDB, PSDB etc..). E quando acho que nenhum dos candidatos possíveis está dentro dessa categoria, eu simplesmente anulo meu voto. OK, muitos irão me odiar porque eu anulo voto. Mas faço isso, pela simples crença de que se, todos nós fossemos coerentes nas urnas com as nossas convicções, poderíamos ter uma situação em que 50% da população votaria nulo. Aí a coisa teria que mudar. Por livre e espontânea pressão popular. Mas tenho ciente de que isso é utópico, afinal, vivemos cultura do “farinha pouca, meu pirão primeiro”. E sempre tem muita gente que se beneficia de alguma forma dessa situação que vivemos. Mas eu sigo firme no meu propósito, tentando ser coerente com aquilo que acredito e que professo. Pode ser que um dia eu mude a minha opinião, afinal, sou um ser em transformação.

2) Sobre o homem nú, não tenho opinião formada. Eu não estava lá, não vi o vídeo completo, e nem li nada sobre o assunto. Dar a minha opinião sem buscar fontes de pesquisa e tomar conhecimento de forma integral do assunto seria, na minha opinião, irresponsável e leviano da minha parte.

3) Sobre dar ou não ração para quem tem fome (nova proposta da Prefeitura de SP) também não tenho opinião, afinal, nunca passei fome na vida e não sofro na pele essa difícil realidade. À primeira vista me parece cruel e desumano, mas antes de sair por aí profetizando ser contra ou a favor, eu conversaria com pessoas nessa situação para ouvir a opinião delas, pois são as opiniões delas que de fato importam. Para quem passa fome, e sofre essa triste realidade todos os dias, pode ser mais digno comer ração distribuída pelo governo do que catar comida estragado do lixo de pessoas abastadas que adoram dar opinião, mas que não fazem nada para ajudar a quem precisa. Que tal ouvir essas pessoas para saber o que elas preferem? O que não quer dizer que eu concorde ou apoie as ações do atual Prefeito de SP (que fique claro!!).

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