A filha perdida

a lua do céu ainda é cheia, coerente com a minha interna. mas aqui dentro, sou apenas minguante. passei a semana atravessada por tantos desafios e tantas emoções que precisei sentar para escrever, antes que minha cabeça exploda com tanta tagarelice. 

minha irmã, marido e filha acabam de sair de casa para me deixar sozinha. fui fiel comigo mesma ontem e pedi esse tempo. é claro que 'o sair de casa' nao foi assim tão fácil. ate acomodar todas as necessidades e atividades, já me via ansiosa, como se o adeus nao fosse nunca chegar. e bastou que eles saíssem para eu começar no drama da priorização; entre tomar um banho demorado, ler um livro, atualizar as tarefas no computador, varrer a casa e tantas outras tarefas que se acumulam, cada uma com a sua necessidade de ser cumprida, escolhi sentar para escrever. sinto que preciso para acalmar a mente e o coração.

acendo uma vela, para que o fogo me ajude a iluminar o lado interno que quer falar. muitos gatilhos foram acionados nos últimos dias; o filme a filha perdida (que talvez tenha sido o ponto de partida para todos os outros), uma conversa profunda com a minha irmã sobre ressignificar a relação com nossa mãe, uma conversa corajosa com meu marido, noites mal dormidas regadas a peito e choro (da clarice e os meus próprios), frases soltas que escutamos ao longo dos dias e as pequenas dificuldades de nos manter vivas nesse mundo que invisibiliza (será que essa palavra existe?) as mulheres-mães.

assisti o filme na terça e fui atravessada de tal forma que as emoções continuam se embaralhando aqui dentro. ao longo dos dias tambem li comentarios sobre o filme (e sobre outros assuntos) que foram compondo esse muro de pedras sobre esse universo intenso do maternar. me senti representada em varios aspectos e isso me fez chorar. um mixto de pertencimento e dor. pertencimento por perceber que a dor nao é so minha. e dor pelo frequente questionamento sobre como fomos parar nesse lugar como sociedade. 

passei os dias também pensando como essa dor pode ser transformada em amor. e como meu proposito e minha voz pro mundo pertencem a esse lugar, tao pouco divulgado e desbravado. em meio a isso, leio outras mulheres que admiro e pareço me diminuir frente a tanta profundidade. me vejo incapaz de seguir adiante nessa estrada. e me recolho, me achando insignificante para esse lugar. 

entre uma lágrima e outra, me recomponho. reorganizo meu mundo interno e faço planos. me imagino e valido minha história com tanto carinho. para logo depois, voltar ao lugar de incapaz. as vozes internas que me habitam querem ganhar o mundo, mas esao sempre nesse paradoxo de nao se achar boa o suficiente. 

sigo por aqui entao, fazendo desse espaço meu mundo interno, invisivel para o mundo. 

afinal, já aprendi a ser invisível nesse mundo materno. 

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