A responsabilidade dos pais (Escrito em 16/06/2018)

Eu tenho uma profunda admiração pelos meus pais e sou agradecida pela educação que nos deram. Dentro das referencias que eles tiveram, chego a pensar que foi praticamente um milagre formar 3 filhos íntegros, do bem e honestos. Mas todo processo educativo implica em erros e acertos, mesmo porque errar é algo íntinseco da natureza humana, que é imperfeita. E é consenso que quando os pais falham, é sempre com a intenção de acertar e sempre visando o melhor para seus filhos (toda regra tem a sua exceção, claro). O desafio de educar torna-se ainda maior  quando lembramos que ninguém é preparado para ser pai e mãe. Não existem escolas, nem faculdade e nem curso preparatório para conseguirmos desempenhar de forma mais adequada (com menos erros possíveis) o que considero a nossa maior missão de vida. No passado, época em que meus pais foram pais, era ainda pior. Hoje temos, ao menos, psicólogos, pesquisadores e escritores que abordam essa temática, o que ajuda bastante no processo educativo, mas apenas para  àqueles que se interessam por isso. E há que ter humildade para isso! O problema é que a maioria não o tem.
 Ė é nesse campo que está minha reflexão da semana!
Somos todos um emaranhado complexo das nossas experiências de vida, nossos aprendizados, dores e experiencias. Nessse contexto, nossos pais tem um papel fundamental, pois durante os primeiros anos de vida eles são nossos guardiões e responsáveis por grande parte daquilo que ouvimos e vivemos como experiência. Eles são humanos e vão falhar, mas cada pequeno ato pode impactar de forma profunda (e diferenciada porque somos individuos) a nossa autoestima, nossas vulnerabilidades e medos. Na minha família, por exemplo, recebemos a mesma educação disciplinadora e mais voltada para o racional. Nos sentiamos amados pelo cuidado, atenção e presença que recebiamos, mas as demonstrações explicitas de amor nunca foram o forte dos meus pais e, consequentemente, da nossa familia. Através dessas experiencias, cada irmão desenvolveu seu carater apoiado no que esse tipo de educação representou: eu cresci e tenho inumeras dificuldades de expor minhas emoçoes. Tenho feito essa reflexão, por exemplo, com a minha mãe. O quanto é dificil pra mim dar e receber carinho dela. Como é arduo transpor um muro e falar abertamente dos meus sentimentos. 
Para meu irmão, penso que as palavras de comparação magoaram tanto ele, que criaram uma casca de baixa autoestima que reflete hoje nas escolhas profissionais que ele tem feito ao longo de 20 anos, gerando frustrações e preocupaçoes sempre frequentes. Na minha irmã, a questão de autoestima também é latente, refletindo na relação que ela tem com o proprio corpo e refletindo nas relacoes pouco saudaveis que ela construiu ao longo da juventude. 
A cultura da escassez que fomos educados também influenciou na nossa relação atual com o dinheiro e em todos os nossos pensamentos limitantes derivados dele. Lembro-me, por exemplo, que meus pais nunca nos levaram ao mercado e quando eles chegavam com as compras do mês, ficávamos como ratos olhando as sacolas na expectativa de encontrar coisas gostosas para comer, que só podiam ser abertas mediante prévia autorização. Pode parecer besteira, mas acredito que esses pequenas atitudes diárias vão nos moldando e trazendo experiencias pessoais que ficam em nosso inconsciente e vão impactar profundamente na nossa vida adulta. No meu caso, e dos meus 3 irmãos, os aspectos positivos superaram os aspectos negativos. Ainda assim, temos nossos traumas, questões e dificuldades, que agora cabe a nós solucionar por conta própria.
E é aí que está a responsabilidade dos pais, além de toda a rede que contribui para a educação de uma criança (avós, professores, evangelizadores, tios etc..). Muitas vezes agimos e falamos coisas simplesmente sem pensar, sem a consciencia de que, de alguma forma, aquilo pode gerar algum sentimento na criança e marcá-la de uma forma tão profunda que vai gerar alguns transtornos mais tarde. É óbvio que como somos humanos, nesse processo de relação sempre vão existir experiencias que fogem do nosso controle ou da nossa capacidade de reflexão. E isso é compreensivel e vai fazer parte do processo de frustrações da criança, que mais tarde, quando tornar-se adulta, também terá a possibilidade de trabalhar essas questões. O que estou colocando aqui é o comportamento repetitivo e frequente de pais que agem ou falam coisas sem a menor sensibilidade ou reflexão de consequencia nas emoções dos seus filhos. Por isso, é necessário que tenhamos consciencia sobre a forma que agimos, sobre aquilo que falamos e dos impactos da nossa interação com essas crianças e jovens que estão em processo de formação. Por mais que não tenhamos capacidade para romper com certas comportamentos nossos (pais impacientes, por exemplo, terão dificuldades de serem pacientes com seus filhos), o mais importante nesse processo é estar consciente e se esforçar para ser o melhor que conseguimos ser. É compreender que a sua dificuldades vão refletir na vida do seu filho e, caso você não consiga fazer diferente, ter a consciencia de que isso pode causar algum impacto na forma como seu rebento se relaciona com o mundo e com as demais pessoas. E que, da mesma forma que para você hoje é dificil romper com certos comportamentos que te incomodam, ele também terá essas mesmas dificuldades, no futuro. É a mais sábia lei da física: Toda ação gera uma reação, de mesma intensidade, na mesma direção e sentido oposto.
Essa reflexão veio à tona nessa semana pois estou tentando ajudar uma jovem de 23 anos que acabou de ser demitida do estagio e está enfrentando problemas com os pais, que estão pressionando a mesma para se formar nesse período. Não sei todos os lados da história e, portanto, posso estar cometendo diversos equivocos no meu julgamento. No entanto, dado aquilo que sei do problema, estou bastante preocupada com a menina pois ela declara que os pais, na tarefa de pressioná-la, dizem frases como "você não é ninguém!" E "se você não se formar, não te darei nenhum centavo e você vai emagrecer porque só vai beber água!". Vale ressaltar que a frase vem de pessoas formadas, bem sucedidas profissionalmente e de uma classe média bem abastada. A jovem, que já tem questões claras com a sua autoestima e dificuldades de controle emocional, acaba ficando ainda mais desestabilizada e se culpa, diz que é burra, que ninguém gosta dela, além de declarar  pensamentos suicidas. Dentro da minha capacidade, tento dizer a ela o quanto ela é linda e inteligente e que tem uma vida longa pela frente. Procuro estimulá-la para manter seus sonhos e desejos e me coloco a disposição para ouvi-la e estimulá-la. Mas tudo isso é paliativo. Nossa relação é recente e superficial, e tenho minhas limitações. 
Mas tenho muita pena e me questiono como podem os pais dessa jovem serem tão insensiveis ao ponto de não identificarem que ela precisa de carinho e amparo. Ao invés de uma pressão destrutiva, ela precisa de um suporte que estimule sua autoestima e que a ensine a lidar com seus próprios sentimentos. Que os dasafios pela qual está passando nos últimos meses fazem parte do aprendizado de vida dela, mas que o apoio dos pais (àqueles que supostamente a amam incondicionalmente) são fundamentais para que ela possa amadurecer, se desnvolver e acreditar que dias melhores virão. Ao meu ver, se ao invés disso ela encontra no lar repudio, rejeição e mais pressão (tudo aquilo que ela já encontra no mundo externo), os desafios da vida tornam-se ainda mais complexos e existe a tendência de querer fugir. E nesse ambiente nocivo fica dificil aprender e crescer. Me questiono se esses pais estão refletindo sobre a forma como estão lidando com a situação ou se estão apenas reproduzindo o que aprenderam com os proprios pais. Será que estão pensando nos impactos que a sua forma de agir ou as duras palavras estão gerando de reação nessa jovem? Sinceramente, não sei. E não posso julgar. Mas é duro ver o sofrimento de alguém e não saber como intervir. 
Por isso, nesse contexto, reflito sobre a profunda responsabilidade dos pais naquilo que somos e seremos. E termino agradecendo meus pais pela educação que me deram, pois de alguma forma, eles souberam cultivar em nós essa capacidade de reflexão, ponderação, empatia e amor ao próximo. E este é um grande legado. 

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