Em velho ser


Minha avó fez 83 anos no dia 20/02. Ela está com uma saúde de ferro, mas com uma cabeça que já não acompanha a agitação do mundo. Esquece alguns nomes, repete a mesma frase várias vezes e não ouve tudo com perfeição. Tudo isso é normal para alguém que já viveu 8 décadas e já passou por muita coisa.

Mas o fato é que ela está mais velha do que parece. Seu espírito envelheceu. Minha avó (a única que ainda está viva) nunca teve um senso de humor aflorado. Tampouco teve oportunidade para estudar e aumentar sua cultura geral. E acredito que isso influencie diretamente o estado na qual se encontra hoje. Já não sente motivação para ir ao cinema, para ler, para fazer palavras-cruzadas, para viajar. Enfim, já não lhe restam mais energias para nada. Talvez apenas para morrer. E fico mesmo preocupada porque essa falta de objetivos é o que nos priva da vontade de continuar vivendo, apesar das dificuldades. Eu sinto que o tempo dela está acabando.

Como não estou trabalhando, tenho dedicado muitas horas da minha semana para ela e com ela. E está sendo ótimo aprender algumas lições com minha avó após 27 anos de vida. Essa convivência me faz pensar nas relacões que temos como nossos idosos, no tempo que dedicamos à eles e na forma com que lidamos com suas dificuldades. Para além disso, tenho pensando em como nos tornamos velhos. De fato, estamos num mundo agitado demais, que já não tem tempo para parar por algumas horas para escutar as histórias que Eles têm para nos contar. Poderíamos aprender tanto com isso!!!

É claro que em muitos momentos eles nos parecem chatos, caducos, inflexíveis. Mas pensemos: não deve ser nada fácil para eles conviver com corpos murchos que já não respondem aos impulsos e presenciar tão grande revolução social!!! Por que achamos que eles precisam entender nossa evolução, se nós não compreendemos suas tradições?? Sejamos compreensivos porque, em princípio, todos nós teremos a nossa vez.

Minha avó não é uma pessoa fácil de lidar e muitas vezes ela acaba nos irritando com sua ansiedade e mitos. Mas isso está me ajudando a desenvolver a paciência e compreensão. Estou buscando entender algumas de suas crenças, reclamações, amarguras. Não é difícil se lembrarmos que cada ser humano é uma caixa repleta de histórias e experiências passadas. E as experiência que ela viveu não foram assim tão excitantes. Às vezes chego a ter pena e comprendo seu jeito amargo de olhar a vida. A vida moldou-a assim. E agora, eu como neta, quero apenas proporcioná-la um pouco de carinho. Para quando ela partir tenha a certeza de que foi amada por muitos.

Eu gostaria de sentir isso quando chegar a minha vez de envelhecer.

Comentários

  1. Oi amiga,
    Este fim de semana também fui fazer uma visita a avó do Tiago e custou um pouco ver uma pessoa que aparenta ser velha mas na verdade só tem setenta e poucos anos e que está num lar que não gosta. custou-me ainda mais na hora de vir embora ela agarrar-se a nós a dizer repetidamente obrigada pela visita!Sinto-me muito mal com isto porque sempre vivi com a minha avó e nunca me separei muito dela apesar de ela para o fim de vida estar como está a tua avó agora. Vivo reconfortada por sempre a ter tratado bem enquanto era viva e me ter privado das minhas saidas de domingo com colegas e namorados para lhe fazer companhia... Sinto-me muito triste por não poder fazer o mesmo a avó do tiago. Vou lutando para o conseguir, e a esperança é a ultima a morrer.

    beijos

    carla

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