Cada um no seu quadrado


O meu horizonte continua negro, como as últimas chuvas que cairam na cidade. Estou em pedacinhos e acordei às 4:00 da manhã.

Não foi culpa da angústia, mas da tosse.

Depois de uma crise no banheiro, aí sim veio a angústia que não me deixou mais dormir. Tentei lutar e fechei os olhos. Mas desisti!! Resolvi tornar a insônia produtiva e fiz uma leitura. Quando cansei, fiquei pensando na vida e quando cansei, levantei da cama, às 7:00 da manhã.

Levantar, tomar café, computador, roupa de ginástica. Aí o stress inicial: minha irmã narrando cenas de crimes e problemas políticos enquanto eu degustava minha porção de cafeína diária. Logo pela manhã? Que coisa!!!

Acabamos massacrando-a. Ela se irritou e se fechou. Acabou não indo caminhar comigo, conforme havia prometido. Fui sozinha, com as primeiras lágrimas a fazer companhia. Tentei escutar música para inibir os pensamentos, mas a pilha acabou (Não à minha, mas à do mp3).

Aí começaram os pensamentos frenéticos entrando e saindo do meu cérebro num compasso mais rápido que minha corridinha. Passei a enumerar as questões existências que me devoram nesses últimos dias. Mas o foco foi a vida alheia.

Voltei de viagem há alguns dias e já percebi que a vida não é conto de fadas. E o pior é que me preocupo demais é com a vida de pessoas especiais na minha vida, que estão com problemas até o pescoço. Ao menos eu vejo como um problema. E é aí que está a questão!!!

Por que eu cismei de querer transformar os seres ao meu redor? Por que acredito que eles estão passando por dificuldade e que sou capaz de privá-los desse sofrimento? Na verdade, eu nem consigo administrar os meus próprios conflitos. Passei a perceber que é muita prepotência da minha parte achar que o meu formato de vida é o ideal, que a minha forma de ver a vida é a mais correta. Ora bolas!! Cada um tem o direito de viver no seu próprio mundo e fazer suas próprias escolhas, sem que precise ser entitulado de infeliz por conta disso.

Quem quer ser gordo, que seja. Quem quer manter um casamento fracassado, que mantenha. Quem quer mergulhar cada vez mais nos problemas, que mergulhe. Quem quer lamentar a vida o tempo todo, que lamente. Quem quer ser cego diante de uma realidade perversa, que seja. Quem quer mergulhar em dívidas, que mergulhe.
Não é por isso que eles passam a ter uma vida pior do que a minha. De fato, eles são felizes assim e eu não tenho nenhum direito de tentar mudar essa situação. Eles apenas são diferentes e vivem suas próprias vidas sem almejar a perfeição. Errados? De forma alguma. Eles são felizes de forma realista.

E a verdade é que cada um constrói sua essência baseado em experiências de vida, que são diversas. Por trás de um olhar triste pode ter uma história de dor e superação. Portanto, quem sou eu para fazer julgamentos? Que mania feia que temos de julgar as atitudes alheias. Questão de comodismo. Fica muito mais fácil apontar o dedo no rosto das pessoas do que fazermos uma auto-avaliação sobre nossas próprias opiniões. E de fato o encanto do universo é exatamente esse: Cada indivíduo é único e incomparavel.

Já decidi que não vou mais tentar mudar suas vidas. Seguirei a minha prória, dentro do meu quadrado, e estarei perto deles para o que precisarem. Porque os amo, muito. Na verdade cada um deve viver no seu próprio espaço, sem tentar invadir o do próximo. Nesse universo louco, nós é que determinamos o que é certo e errado. Portanto, nada de estereotipar os indivíduos. Sejam livres para escolherem seus próprios caminhos.

Cada uma veio ao mundo com uma missão e as provações fazem parte do aprendizado da alma. Não há necessidade de intervenções. Se estou desistindo de lutar? Claro que não!! Estou apenas tentando respeitar a individualidade (e o quadrado) de cada um.

Que assim seja!!

Comentários

  1. Ai rapariga rapariga...
    Tás a ficar quadrada :-) eh eh
    E então já paraste de pensar?
    Eu já te disse que isso faz mal..
    Tens de fazer mais daqueles recortes giros que fazias...
    beijokas

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  2. Meu querido amigo,

    Vc tem toda a razão em dizer que pensar faz mal. Como costumo dizer "A ignorância conforta". Mas não tem jeito...esse meu cérebro insiste em maquinar coisas o tempo todo. Mas não se preocupe. Isso faz parte da minha essência e o final é sempre feliz. E se não for, é porque a história ainda não acabou.
    Beijocas e um abraço bem forte de saudades.

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